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25/08/23

A Fazenda dos Ingleses em Caraguatatuba

 Por Edson Souza / Especial: Caraguatatuba

Ao contrário de seus predecessores, a Lancashire General Investment Company, em 1927 não estava interessada em comércio florestal, mas em potencial agrícola. O terreno foi comprado pelo grupo que o arrendou para uma de suas subsidiárias, a Companhia Brasileira de Frutas de Caraguatatuba.

Geograficamente, as terras eram limitadas aos rios Juqueriquerê, Pirassununga, Camburu e Serra do Mar. O clima e o solo eram muito favoráveis à produção, principalmente de banana e frutas cítricas como “Grapefruit”; uma fruta relacionada com a laranja.


Os novos gestores investiram em infraestrutura e transformaram o espaço em uma máquina eficiente e rentável. A fazenda inglesa tinha uma ferrovia, um pequeno porto, barcaças para o transporte de frutas, moradia para trabalhadores, gerentes e diretores.

A produção de grapefruit e banana em quase quatro mil hectares de terras era o suficiente para carregar os navios da Blue Star Line. No início da década de 1930, um milhão de bananeiras já estava plantado na fazenda. Em poucos anos, o número total subiria para quatro milhões.








Jacinta Maria de Jesus Santos nasceu em Ubatuba (SP) em 1.º de outubro de 1920; já em meados de 1937, mudou-se para a cidade de Caraguatatuba, cujos pais trabalhavam na Fazenda dos Ingleses, que durante quatro décadas produziu banana e grapefruit… Relembrou:

(…) A legislação brasileira foi alterada e as terras da fazenda foram vendidas para a S.A. Frigorífico Anglo, também de propriedade da Lancashire e controladora da empresa de navegação Blue Star Line. Os frutos colhidos eram transportados para barcos na foz do rio Juqueriquerê; depois eram carregados em barcaças que levavam a carga para aqueles navios que os esperavam no canal da Ilha de São Sebastião. 

(...) De lá, os frutos seguiam para a Inglaterra… Nessa época, acompanhava meus pais, embarcada; situação em que conheci Benedito Pedro dos Santos, com quem me casei e fui morar em Ilhabela, a ilha do espião alemão.

A Segunda Guerra Mundial teve um efeito dramático no progresso da fazenda inglesa, onde o Reino Unido, principal importador do grupo Lancashire, teve um papel fundamental na batalha. O conflito logo chegaria ao Brasil, e o litoral norte do estado de São Paulo não escaparia dos ataques. Para reforçar a segurança do Atlântico Sul, a Marinha operou nas águas do canal da Ilha de São Sebastião para se proteger dos inimigos.

Em visita ao amigo Aníbal Telles Corrêa, da Bolsa de Valores de São Paulo, um dos zeladores da fazenda dos ingleses lhe contou sobre rumores de que um espião alemão foi descoberto na Ilhabela. Ele estaria informando os submarinos alemães sobre a passagem de navios aliados na época da guerra. 

Elihu B. Washburne
Submarino Alemão
Navio Campos

 


Em 1943, o submarino alemão U-513, sob o comando de Friedrich Guggenberger, considerado um dos braços direito de Adolf Hitler, foi avistado pela Marinha na costa do Brasil e posteriormente pela FAB — Força Aérea Brasileira no canal da ilha de São Sebastião, litoral norte de São Paulo.

Em Julho do mesmo ano, um cargueiro inglês denominado “Elihu Benjamin Washburne” partiu do porto de Santos (SP) com uma carga de café destinada aos Estados Unidos. Próximo à região de Ilhabela, o navio foi confundido com outro encouraçado de guerra; então torpedeado e afundado pelo submarino alemão U-513 próximo ao arquipélago dos Alcatrazes.

Meses depois, seguindo quase os mesmos elementos fatídicos, o navio “Campos” também foi surpreendido, em rota da cidade do Rio de Janeiro (RJ) com destino ao porto de Rio Grande. Próximo à (Alcatrazes), outro submarino alemão U-170 o torpedeou, matando 52 pessoas.

 

Ao final da guerra, as atividades agrícolas na fazenda dos ingleses foi retomada, mas sem a intensidade anterior. O conflito que se desenrolou entre 1939 – 1945 afetou a economia da Inglaterra, o que reduziu a procura de frutas agrícolas no Brasil.

Em 1947, a cidade de Caraguatatuba viveu um momento importante de sua história ao ser reconhecida por lei como Estância Balneária, despertando o destino litorâneo aos turistas. Durante às duas décadas seguintes, a fazenda continuou a operar, mas a partir de 1960 encontrou novos problemas quando a produção foi atacada por diversas pragas.

Era sábado, 18 de março de 1967… Chovia muito no litoral norte de São Paulo… De repente, uma espessa camada de solo da Serra do Mar escorregou sobre Caraguatatuba, causando o pior desastre da região. Uma tonelada de lama que deslizou morro abaixo arrastou tudo o que havia em seu caminho, decretando um fim para a fazenda dos ingleses.

Por Edson Souza / Especial: Caraguatatuba

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