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26/02/23

A Casa de Eva Esperança - ‘Berço da Congada’ em Ilhabela

 Reportagem: Edson Souza e Giliard Miguel

Bairro do Perequê (1949) Acervo: Ary França

A equipe do “Arquivo Ilhabela” pesquisou a propriedade que pertenceu à Eva Esperança, considerada uma das primeiras parteiras da cidade, cuja família foi a responsável pela presença da congada no município e pela casa que foi berço dessa tradição.

O levantamento foi necessário para a elaboração de documentos referentes às outorgas históricas, que enalteciam a importância do imóvel para o município. O local poderia ser utilizado como “Ponto Memorial” que preservaria as memórias da família de Eva Esperança e da vizinhança local.

Em junho de 2020, o jornalista e pesquisador Edson Souza visitou a casa localizada na Avenida Princesa Isabel, núm. 1357, com o fotógrafo Giliard Miguel, para fazer um registro fotográfico e analisar vestígios de sua originalidade, como descrito abaixo:

Fachada da casa em 2020. Usada pela iniciativa privada. 


Notamos que as portas, janelas, ferrolhos e caixilhos de fechadura em madeira são originais da época da construção, na década de 1930.

A empresa que arrendou a residência priorizou a preservação da casa, instalando conduítes externos ​​nas paredes e no forramento do telhado. O piso permaneceu o mesmo (desde a década de 1930), feito de cimento queimado.

PLANTA BAIXA DO IMÓVEL

Para concluir a pesquisa, foi necessário localizar a planta baixa do imóvel. A equipe do (A. I.) procurou essa mesma nas Secretarias Municipais, verificando a documentação da casa nestas pastas, mas nada foi encontrado nos anexos. O sítio ‘web’ da prefeitura continha, entre outras coisas, o número da matrícula, área construída, endereço, proprietário, o que poderia ser usado para criar um inventário detalhado sobre o imóvel.

Após contato com um dos últimos inquilinos, recebemos uma planta da casa em formato “Coreldraw”. Ele compartilhou um arquivo que estava corrompido e não pôde ser aberto. Na sede do (A. I.) o documento foi convertido para um novo formato que permitia sua utilização como Autocad.

Contemplando o acervo referente ao imóvel, toda a documentação referente aos aluguéis, reformas e acréscimos realizados na casa foi doada por terceiros para a equipe do Arquivo Ilhabela.

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Inicialmente, pesquisamos a história de “Eva Esperança”, registrada por acervos como jornais, livros e entrevistas. Na coluna “Memória” do extinto jornal “Latitude 23 Graus”, o jornalista Bolívar Figueiredo noticiou em março de 2005 sobre “A Eva Que Fez a Esperança Nascer em Ilhabela”.

Nas páginas do livro “Memórias de uma Ilha” de Caio Camargo (1.ª edição, São Paulo, Editora Intermeios, 2011), há um depoimento de Maria da Silva Pinto e Albuquerque (Izanil), uma das filhas de Eva, que partilhou com o autor, informações sobre o seu histórico familiar.

Em 2012, Izanil recebeu a visita do jornalista Edson Souza e compartilhou detalhes da história da família, além de fotografias de época, para ilustrar a pesquisa do acervo. A partir do sistema do Arquivo Ilhabela, identificamos duas entrevistas em áudio, realizadas em 2006 com as filhas de Eva Esperança, a saber, Izanil e Licinha. Cada relatório dura 1 hora e 20 minutos.

Consultamos o setor público do município de Ilhabela para obter mais informações sobre os acervos e entrevistas com os caiçaras realizados na época e descobrimos que os projetos foram interrompidos. Nomeadamente, houve uma mudança de gestão e todos os computadores antigos foram substituídos por sobrecarga de memória e não foi feito 'backup' das máquinas, o que explica porque do município ser carente destes registros.

O Projeto: Eva Esperança

Manifestando o desejo de salvaguarda do imóvel, a Secretaria de Cultura de Ilhabela (Gestão 2020) solicitou, além de outros estudos, cópia da pesquisa realizada pela equipe do Arquivo Ilhabela para a desapropriação da casa e criação de um “Memorial”.

A futura instalação abrigaria sessões museológicas e um espaço relacionado com a memória de Eva Esperança e da Congada de São Benedito. Na ocasião, a equipe do Arquivo Ilhabela colaborou com a operação, compartilhando as pesquisas para o projeto.

O documento final revelou que a “Casa de Eva Esperança” reunia elementos suficientes para receber a proteção e investimento da administração pública para torná-la um monumento da cidade.

O TOMBO (2021)

Em março de 2021, conforme nota oficial da administração pública de Ilhabela, segundo dezenas de reportagens de jornais, foi anunciado o seguinte:

“Prefeitura de Ilhabela realiza tombamento de imóvel histórico”

(…) A Prefeitura de Ilhabela declarou como patrimônio Histórico e Cultural do município a “Casa Eva Esperança”, localizada no bairro do Perequê… O tombamento desse imóvel é importante para a criação de um roteiro Cultural e Histórico no município, além de preservação da história e o patrimônio da cidade… Esse é o primeiro tombamento realizado pela Prefeitura, que pretende tombar outros prédios de interesse municipal.

Fachada em dezembro de 2022

ENCERRAMENTO (2022)

Acompanhando a tramitação, a partir do dia em que o município manifestou interesse em desapropriar o local, encerraram-se os diálogos sobre a aquisição da casa para a prefeitura, e o imóvel continuou com a iniciativa privada.

As novas lojas instaladas na propriedade descaracterizaram a casa, que perdeu o encanto caiçara, ficando apenas na memória de quem a viveu.

A equipe do Arquivo Ilhabela concluiu as pesquisas sobre a Congada, o bairro do Perequê e a família de Eva Esperança, arquivando os resultados na biblioteca da instituição.



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